Como prometido, segue a continuação do artigo anterior:
DEFINIÇÃO DE EVOLUÇÃO
O que, então, significa evolução? Aqui estão algumas das ideias para as quais se emprega o termo EVOLUÇÃO?1. Mudança, desenvolvimento, variaçãoAqui a palavra é empregada para descrever mudança, sem nenhuma implicação do tipo de mecanismo ... envolvido na efetuação da mudança. Nesse sentido falamos de "evolução do automóvel", caso em que, naturalmente, uma boa dose de [intervenção] inteligente se faz necessária. Falamos da "evolução de um litoral", em que o processo natural do mar e do vento, da flora e da fauna, modula o contorno da costa ao longo do tempo, além das possíveis medidas tomadas por engenheiros para impedir a erosão. Quando as pessoas falam da "evolução da vida" nesse sentido, tudo o que elas querem dizer é que essa vida surgiu e se desenvolveu (por quaisquer meios). Empregado dessa maneira, o termo "evolução" é neutro, inócuo e indiscutível.2. Microevolução: Variação dentro de limites estabelecidos de complexidade, variação quantitativa de órgãos ou estruturas já existentes....Esse aspecto da teoria não é nada controverso, pois os efeitos da seleção natural, a mutação, a derivação genética, etc, são constantemente registrados [pela pesquisa científica]. (Isso, naturalmente, significa que a dicotomia de [Richard] Dawkins de "Deus ou evolução, mas não as duas coisas" é demasiado simplista. Todos concordam que ocorrem processos microevolucionários, e assim, de uma perspectiva teísta, o mundo que Deus criou é um mundo no qual o processo da seleção natural desempenha seu papel. Um exemplo clássico, com o qual nós, lamentavelmente, estamos muito familiarizados no mundo inteiro é o modo pelo qual as bactérias desenvolvem sua resistência contra os antibióticos.3. MacroevoluçãoEsta se refere a uma inovação em grande escala, ao aparecimento de novos órgãos, estruturas, novos planos corporais, de materiais genéticos qualitativamente novos; por exemplo, a evolução de estruturas multicelulares a partir de estruturas unicelulares.4. Seleção artificial, por exemplo, na geração de plantas e animaisCriadores produzem muitos tipos diferentes de rosas e ovelhas a partir de linhagens básicas, mediante cuidadosos métodos de geração. Esse processo envolve um alto grau de [intervenção] inteligente; e, assim, embora ele seja muito citado, em particular pelo próprio Darwin, que argumentava que aquilo que os homens podem fazer num tempo relativamente curto a natureza poderia fazer num espaço mais longo, esse processo não apresenta por si só nenhuma prova a favor da evolução por meio de um processo NÃO DIRIGIDO.5. Evolução molecular.... O termo "evolução molecular" é hoje empregado para descrever o aparecimento da célula viva a partir de materiais não vivos.... À luz dessas ambiguidades no significado da evolução... Se "questionar a evolução" significa questioná-la nos sentidos 1, 2 ou 4, então uma acusação de estupidez ou ignorância poderia ser compreensível. Como já dissemos, ninguém põe seriamente em dúvida a validade da microevolução e da mudança nos ciclos como exemplos da atividade da seleção natural.
... Falando de maneira mais simples ... a seleção natural favorece a prole forte em detrimento da fraca numa situação de recursos limitados. Ela ajuda a preservar todas as mutações benéficas. Os organismos que passam por essas mutações sobrevivem, os outros não. Mas a seleção natural não causa as mutações. Essas ocorrem ao acaso. A quantidade de recursos (alimento) disponível é um dos parâmetros variáveis nessa situação. Eu, que sou matemático, tive a ideia de que seria interessante ver o que acontece se esse parâmetro aumentar. Convido você a fazer um experimento mental. Imagine uma situação na qual os recursos aumentem de modo que, no caso limite, há alimento para todos, para os fortes e para os fracos. à medida que os recursos aumentassem, a atuação da seleção natural pareceria cada vez menor, pois a maior parte da prole sobreviveria...
O LIMITE DA EVOLUÇÃOEmbora alguns biólogos resistam a diferenciar a microevolução da macroevolução, os termos são muitas vezes empregados para distinguir, A GROSSO MODO, a evolução abaixo e acima do nível das espécies, havendo um debate sobre o ponto exato onde se deveria traçar a linha divisória. A resistência contra essa distinção surge com frequência porque o processo evolucionário é considerado como um todo indivisível; considera-se que a macroevolução é simplesmente o que resulta de processos da microevolução em atividade por longos períodos de tempo. Essa é a visão dos "gradualistas", como Richard Dawkins e Dennett, que contorna a principal questão de saber se a evolução é realmente um todo indivisível ou não; se, por exemplo, os mecanismos de evolução que podem, digamos, explicar razoavelmente as variações do comprimento dos bicos dos tentilhões ou do desenvolvimento da resistência a antibióticos nas bactérias, podem, em primeiro lugar, explicar a existência dos tentilhões e das bactérias. Em outras palavras, a questão principal é esta: há um "limite" para a evolução?... A hipótese de uma ancestralidade comum equivale [em método] à do [projeto] comum, no sentido de que quaisquer acusações de serem científicas ou não científicas que se possam levantar contra uma delas, também podem ser igualmente levantadas contra a outra. Por exemplo, postular um PROJETISTA não observado não é mais anticientífico do que postular passos macroevolucionários não observados. Com certeza, está muito clero que a "evolução das lacunas" está no mínimo tão alastrada quanto a do "Deus das lacunas".
...Resumindo o debate até este ponto, a alegação de que o ateísmo pode ser deduzido da biologia evolucionária é falsa. Em 1º lugar, pela razão lógica de que não se pode deduzir uma cosmovisão de uma ciência; e, em 2º lugar, porque avanços científicos desde a época de Darwin não sustentam a idéia de que o "relojoeiro cego" da mutação e da seleção natural explique a existência e a variedade de toda a vida. Certamente o mecanismo da mutação e da seleção explica grande parte da variação que Darwin e nós observamos, mas sua abrangência é circunscrita. Pareceria haver um limite para a evolução, um limite para aquilo que um relojoeiro cego pode fazer.A ORIGEM DA VIDA NA ESTRUTURA DA PROTEÍNA"Criar uma proteína pela simples injeção de energia é como explodir uma banana de dinamite debaixo de uma pilha de tijolos e esperar que isso forme uma casa. Você pode liberar energia suficiente para levantar os tijolos, mas, sem juntar aos tijolos a energia de uma forma controlada e ordenada, há pouca esperança de produzir alguma coisa que não seja uma confusão caótica." (The Fifth Miracle, Paul Davies, pg. 61).
Uma coisa é produzir tijolos; outra coisa inteiramente diferente é organizar a construção de uma casa ou de uma fábrica. Se você precisasse, poderia construir uma casa usando pedras encontradas por aí, de todas as formas e tamanhos que elas assumiram devido a causas naturais. Todavia, a organização da construção exige algo que não está contido nas pedras. Requer a inteligência do arquiteto e a habilidade do construtor. A mesma coisa acontece na construção dos elementos essenciais da vida. O acaso cego simplesmente não fará o trabalho de juntá-los de um modo determinado.... Um dos mais eminentes dentre os cientistas que pesquisam a origem da vida, Leslie Orgel resumiu a posição da seguinte forma:
"Há várias teorias defensáveis sobre a origem da matéria orgânica nos primórdios da Terra, mas em nenhum caso as provas abduzidas são convincentes. De modo semelhante, vários cenários alternativos poderiam explicar a auto-organização de uma entidade auto-replicante a partir da matéria orgânica pré-biótica, mas todos os que são bem formulados se baseiam em sínteses químicas hipotéticas que são problemáticas." (The Origin of Life: A Review of Facts and Speculations, Trends in Biochemical Sciences, 23, 1998).
Orgel, portanto, ecoa a visão de Klaus Dose, também um proeminente pesquisador da origem da vida, que 10 anos antes fizera a seguinte avaliação:"Mais de 30 anos de experiências sobre a origem da vida nos campos da evolução química e molecular, em vez de levar a uma solução, produziram uma percepção mais apurada da imensidão do problema da origem da vida no planeta. Atualmente todas as discussões sobre as principais teorias e experimentos nesse campo ou terminam num beco sem saída ou numa confissão de ignorância." (The Origin of Life: More Questions than Answers, Interdisciplinary Science Reviews, 1988).
Francis Crick, que não é conhecido por gostar de milagres, apesar de tudo escreveu: "A origem da vida parece quase um milagre, tantas são as condições que supostamente deveriam ter sido satisfeitas para desencadeá-la".(Life Itself, pg. 88).
Tudo isso nos leva a pensar que o veredicto de Stuart Kaufmann, do Instituto Santa Fé, é válido: "Quem lhe disser que sabe como começou a vida na Terra há 3,45 bilhões de anos é um maluco ou um embusteiro. Ninguém sabe." (At Home in the Universe, pg. 31).
Encerro esta seleção de trechos sobre a Evolução, com ainda este último:
...Paul Davies escreve:..."Claramente a evolução darwiniana por variação e seleção naturasl tem o que é necessário para gerar a aleatoriedade (riqueza de informação) e também a funcionalidade biológica rigorosamente especificada no mesmo sistema".(In Many Worlds, pg. 21).
[Contudo], ...Davies parece contradizer o que acaba de dizer, ao acrescentar:"O problema, no que se refere à biogênese [orígem da vida], é que o darwinismo só pode operar quando a vida (alguma espécie dela) já está em andamento. ELE NÃO CONSEGUE EXPLICAR COMO COMEÇA A VIDA EM PRIMEIRO LUGAR".(In Many Worlds, pg. 21, 22).
Mas que outra possibilidade existe além do acaso e da necessidade? Bem, como Sherlock Holmes poderia nos sugerir, se o acaso e a necessidade, em separado ou em conjunto, não conseguem explicar a biogênese, então precisamos considerar a possibilidade de que um 3º fator esteja envolvido. A 3ª possibilidade é a entrada de informação.
Essa sugestão será recebida por um coro de protestos, dizendo que não se trata de uma história de detetive, e que, em todo caso, é anticientífico e intelectualmente preguiçoso propor o que é, em essência, um tipo de solução envolvendo uma "inteligência das lacunas", isto é, um "Deus das lacunas". Ora, mesmo que a acusação deva ser levada à sério - no fim das contas, é possível que um teísta seja intelectualmente preguiçoso e diga, com efeito, "Não consigo explicar isso. Portanto foi feito por Deus" - é importante dizer que o que vale para um, vale para outro. É também muito fácil dizer "a evolução fez isso" quando não se tem a menor ideia de como isso aconteceu, ou quando apenas se alinhavou uma história do tipo "exatamente assim", sem uma base em evidências. De fato, como já vimos, um materialista TEM de dizer que os processos naturais foram os únicos responsáveis, pois, em seu livros, não se admite alternativa. Resulta disso que é tão fácil terminar com uma "Evolução das lacunas" como com um "Deus das lacunas". POderíamos até dizer que é mais fácil terminar com uma "evolução das lacunas" do que com um "Deus das lacunas", pois aquela conclusão provavelmente vai atrair menos crítica do que esta.
Trechos do capítulo 6, 7 e 8 de Por Que
a Ciência não Consegue Enterrar Deus, do matemático e pesquisador John
Lennox. Ed. Mundo Cristão)