segunda-feira, 19 de maio de 2014

A Ciência Precisa do Ateísmo? - parte X - A Verdadeira Definição de Evolução

Como prometido, segue a continuação do artigo anterior:


DEFINIÇÃO DE EVOLUÇÃO

O que, então, significa evolução? Aqui estão algumas das ideias para as quais se emprega o termo EVOLUÇÃO?

1. Mudança, desenvolvimento, variação
Aqui a palavra é empregada para descrever mudança, sem nenhuma implicação do tipo de mecanismo ... envolvido na efetuação da mudança. Nesse sentido falamos de "evolução do automóvel", caso em que, naturalmente, uma boa dose de [intervenção] inteligente se faz necessária. Falamos da "evolução de um litoral", em que o processo natural do mar e do vento, da flora e da fauna, modula o contorno da costa ao longo do tempo, além das possíveis medidas tomadas por engenheiros para impedir a erosão. Quando as pessoas falam da "evolução da vida" nesse sentido, tudo o que elas querem dizer é que essa vida surgiu e se desenvolveu (por quaisquer meios). Empregado dessa maneira, o termo "evolução" é neutro, inócuo e indiscutível.

2. Microevolução: Variação dentro de limites estabelecidos de complexidade, variação quantitativa de órgãos ou estruturas já existentes.
...Esse aspecto da teoria não é nada controverso, pois os efeitos da seleção natural, a mutação, a derivação genética, etc, são constantemente registrados [pela pesquisa científica]. (Isso, naturalmente, significa que a dicotomia de [Richard] Dawkins de "Deus ou evolução, mas não as duas coisas" é demasiado simplista. Todos concordam que ocorrem processos microevolucionários, e assim, de uma perspectiva teísta, o mundo que Deus criou é um mundo no qual o processo da seleção natural desempenha seu papel. Um exemplo clássico, com o qual nós, lamentavelmente, estamos muito familiarizados no mundo inteiro é o modo pelo qual as bactérias desenvolvem sua resistência contra os antibióticos.

3. Macroevolução
Esta se refere a uma inovação em grande escala, ao aparecimento de novos órgãos, estruturas, novos planos corporais, de materiais genéticos qualitativamente novos; por exemplo, a evolução de estruturas multicelulares a partir de estruturas unicelulares.

4. Seleção artificial, por exemplo, na geração de plantas e animais
Criadores produzem muitos tipos diferentes de rosas e ovelhas a partir de linhagens básicas, mediante cuidadosos métodos de geração. Esse processo envolve um alto grau de [intervenção] inteligente; e, assim, embora ele seja muito citado, em particular pelo próprio Darwin, que argumentava que aquilo que os homens podem fazer num tempo relativamente curto a natureza poderia fazer num espaço mais longo, esse processo não apresenta por si só nenhuma prova a favor da evolução por meio de um processo NÃO DIRIGIDO.

5. Evolução molecular.
... O termo "evolução molecular" é hoje empregado para descrever o aparecimento da célula viva a partir de materiais não vivos.

... À luz dessas ambiguidades no significado da evolução... Se "questionar a evolução" significa questioná-la nos sentidos 1, 2 ou 4, então uma acusação de estupidez ou ignorância poderia ser compreensível. Como já dissemos, ninguém põe seriamente em dúvida a validade da microevolução e da mudança nos ciclos como exemplos da atividade da seleção natural.

... Falando de maneira mais simples ... a seleção natural favorece a prole forte em detrimento da fraca numa situação de recursos limitados. Ela ajuda a preservar todas as mutações benéficas. Os organismos que passam por essas mutações sobrevivem, os outros não. Mas a seleção natural não causa as mutações. Essas ocorrem ao acaso. A quantidade de recursos (alimento) disponível é um dos parâmetros variáveis nessa situação. Eu, que sou matemático, tive a ideia de que seria interessante ver o que acontece se esse parâmetro aumentar. Convido você a fazer um experimento mental. Imagine uma situação na qual os recursos aumentem de modo que, no caso limite, há alimento para todos, para os fortes e para os fracos. à medida que os recursos aumentassem, a atuação da seleção natural pareceria cada vez menor, pois a maior parte da prole sobreviveria...




O LIMITE DA EVOLUÇÃO
Embora alguns biólogos resistam a diferenciar a microevolução da macroevolução, os termos são muitas vezes empregados para distinguir, A GROSSO MODO, a evolução abaixo e acima do nível das espécies, havendo um debate sobre o ponto exato onde se deveria traçar a linha divisória. A resistência contra essa distinção surge com frequência porque o processo evolucionário é considerado como um todo indivisível; considera-se que a macroevolução é simplesmente o que resulta de processos da microevolução em atividade por longos períodos de tempo. Essa é a visão dos "gradualistas", como Richard Dawkins e Dennett, que contorna a principal questão de saber se a evolução é realmente um todo indivisível ou não; se, por exemplo, os mecanismos de evolução que podem, digamos, explicar razoavelmente as variações do comprimento dos bicos dos tentilhões  ou do desenvolvimento da resistência a antibióticos nas bactérias, podem, em primeiro lugar, explicar a existência dos tentilhões e das bactérias. Em outras palavras, a questão principal é esta: há um "limite" para a evolução?

... A hipótese de uma ancestralidade comum equivale [em método] à do [projeto] comum, no sentido de que quaisquer acusações de serem científicas ou não científicas que se possam levantar contra uma delas, também podem ser igualmente levantadas contra a outra. Por exemplo, postular um PROJETISTA não observado não é mais anticientífico do que postular passos macroevolucionários não observados. Com certeza, está muito clero que a "evolução das lacunas" está no mínimo tão alastrada quanto a do "Deus das lacunas".
...Resumindo o debate até este ponto, a alegação de que o ateísmo pode ser deduzido da biologia evolucionária é falsa. Em 1º lugar, pela razão lógica de que não se pode deduzir uma cosmovisão de uma ciência; e, em 2º lugar, porque avanços científicos desde a época de Darwin não sustentam a idéia de que o "relojoeiro cego" da mutação e da seleção natural explique a existência e a variedade de toda a vida. Certamente o mecanismo da mutação e da seleção explica grande parte da variação que Darwin e nós observamos, mas sua abrangência é circunscrita. Pareceria haver um limite para a evolução, um limite para aquilo que um relojoeiro cego pode fazer.


A ORIGEM DA VIDA NA ESTRUTURA DA PROTEÍNA
"Criar uma proteína pela simples injeção de energia é como explodir uma banana de dinamite debaixo de uma pilha de tijolos e esperar que isso forme uma casa. Você pode liberar energia suficiente para levantar os tijolos, mas, sem juntar aos tijolos a energia de uma forma controlada e ordenada, há pouca esperança de produzir alguma coisa que não seja uma confusão caótica." (The Fifth Miracle, Paul Davies, pg. 61).

Uma coisa é produzir tijolos; outra coisa inteiramente diferente é organizar a construção de uma casa ou de uma fábrica. Se você precisasse, poderia construir uma casa usando pedras encontradas por aí, de todas as formas e tamanhos que elas assumiram devido a causas naturais. Todavia, a organização da construção exige algo que não está contido nas pedras. Requer a inteligência do arquiteto e a habilidade do construtor. A mesma coisa acontece na construção dos elementos essenciais da vida. O acaso cego simplesmente não fará o trabalho de juntá-los de um modo determinado.

... Um dos mais eminentes dentre os cientistas que pesquisam a origem da vida, Leslie Orgel resumiu a posição da seguinte forma:

"Há várias teorias defensáveis sobre a origem da matéria orgânica nos primórdios da Terra, mas em nenhum caso as provas abduzidas são convincentes. De modo semelhante, vários cenários alternativos poderiam explicar a auto-organização de uma entidade auto-replicante a partir da matéria orgânica pré-biótica, mas todos os que são bem formulados se baseiam em sínteses químicas hipotéticas que são problemáticas." (The Origin of Life: A Review of Facts and Speculations, Trends in Biochemical Sciences, 23, 1998).

Orgel, portanto, ecoa a visão de Klaus Dose, também um proeminente pesquisador da origem da vida, que 10 anos antes fizera a seguinte avaliação:
"Mais de 30 anos de experiências sobre a origem da vida nos campos da evolução química e molecular, em vez de levar a uma solução, produziram uma percepção mais apurada da imensidão do problema da origem da vida no planeta. Atualmente todas as discussões sobre as principais teorias e experimentos nesse campo ou terminam num beco sem saída ou numa confissão de ignorância." (The Origin of Life: More Questions than Answers, Interdisciplinary Science Reviews, 1988).

Francis Crick, que não é conhecido por gostar de milagres, apesar de tudo escreveu: "A origem da vida parece quase um milagre, tantas são as condições que supostamente deveriam ter sido satisfeitas para desencadeá-la".(Life Itself, pg. 88).

Tudo isso nos leva a pensar que o veredicto de Stuart Kaufmann, do Instituto Santa Fé, é válido: "Quem lhe disser que sabe como começou a vida na Terra há 3,45 bilhões de anos é um maluco ou um embusteiro. Ninguém sabe." (At Home in the Universe, pg. 31).




Encerro esta seleção de trechos sobre a Evolução, com ainda este último:


 ...Paul Davies escreve:
..."Claramente a evolução darwiniana por variação e seleção naturasl tem o que é necessário para gerar a aleatoriedade (riqueza de informação) e também a funcionalidade biológica rigorosamente especificada no mesmo sistema".(In Many Worlds, pg. 21).

[Contudo], ...Davies parece contradizer o que acaba de dizer, ao acrescentar:
"O problema, no que se refere à biogênese [orígem da vida], é que o darwinismo só pode operar quando a vida (alguma espécie dela) já está em andamento. ELE NÃO CONSEGUE EXPLICAR COMO COMEÇA A VIDA EM PRIMEIRO LUGAR".(In Many Worlds, pg. 21, 22).

Mas que outra possibilidade existe além do acaso e da necessidade? Bem, como Sherlock Holmes poderia nos sugerir, se o acaso e a necessidade, em separado ou em conjunto, não conseguem explicar a biogênese, então precisamos considerar a possibilidade de que um 3º fator esteja envolvido. A 3ª possibilidade é a entrada de informação.

Essa sugestão será recebida por um coro de protestos, dizendo que não se trata de uma história de detetive, e que, em todo caso, é anticientífico e intelectualmente preguiçoso propor o que é, em essência, um tipo de solução envolvendo uma "inteligência das lacunas", isto é, um "Deus das lacunas". Ora, mesmo que a acusação deva ser levada à sério - no fim das contas, é possível que um teísta seja intelectualmente preguiçoso e diga, com efeito, "Não consigo explicar isso. Portanto foi feito por Deus" - é importante dizer que o que vale para um, vale para outro. É também muito fácil dizer "a evolução fez isso" quando não se tem a menor ideia de como isso aconteceu, ou quando apenas se alinhavou uma história do tipo "exatamente assim", sem uma base em evidências. De fato, como já vimos, um materialista TEM de dizer que os processos naturais foram os únicos responsáveis, pois, em seu livros, não se admite alternativa. Resulta disso que é tão fácil terminar com uma "Evolução das lacunas" como com um "Deus das lacunas". POderíamos até dizer que é mais fácil terminar com uma "evolução das lacunas" do que com um "Deus das lacunas", pois aquela conclusão provavelmente vai atrair menos crítica do que esta.


Trechos do capítulo 6, 7 e 8 de Por Que a Ciência não Consegue Enterrar Deus, do matemático e pesquisador John Lennox. Ed. Mundo Cristão)

domingo, 4 de maio de 2014

A Ciência Precisa do Ateísmo? - parte IX - A Teoria da Evolução leva ao Ateísmo?

LIGEIRO RESUMO DO QUE JÁ FOI APRESENTADO

Dei início à reformulação de meu blog com objetivo redirecionado para a frase sub-título do mesmo, com a série de artigos "A CIÊNCIA PRECISA DO ATEÍSMO?".
Esta série de artigos traz trechos selecionados do excelente livro POR QUE A CIÊNCIA NÃO CONSEGUE ENTERRAR DEUS?, escrito pelo matemático teísta e cristão John Lennox e publicado pela editora Mundo Cristão. É um livro acadêmico e científico, contudo escrito em linguagem inteligível a todos. Tem por objetivo provar por A mais B, que não existe necessidade alguma da interligação entre a ciência e o ateísmo. Rápido resumo das partes já lançadas:
  • ARQUIVOS DE MARÇO
  1. Prefácio apresentando as duas cosmovisões antagônicas que pleiteiam coadunar-se com a ciência: o teísmo e o naturalismo ateísta.
  2. Continuação do prefácio com o artigo O Último Prego no Caixão de Deus.
  3. Apresentação das origens da ciência, ligadas ao teísmo.
  4. Continuação da análise histórica, apresentando o legado de Galileu Galilei e explicação das diferenças entre o Teísmo e o Naturalismo Ateísta.
  5. Ilustração do "Bolo da Tia Matilde" e debate se Deus realmente é uma hipótese desnecessária na ciência.
  • ARQUIVOS DE ABRIL
     6.   Debate sobre a explicação do "Deus das lacunas", ou seja, na falta de uma explicação lógica, simplesmente coloca-se Deus como o responsável por tudo, sem um embasamento científico.
     7.   O papel da fé na ciência; debate sobre o começo do universo.
     8.   Provas de um projeto intencional do Universo na cosmologia



 PARTE IX: PROVAS DA BIOLOGIA DE UM PROJETO INTENCIONAL DA NATUREZA


(...) Desde a época dos grandes pensadores do mundo antigo, como Aristóteles e Platão, até a dos biólogos modernos,  o mundo vivo tem sido uma fonte de infinita maravilha. Quem pode deixar de se maravilhar diante da habilidade típica dos pombos de voltar para casa; do instinto migratório do cisne de Bewick; do sistema de eco-localização do morcego; do centro de controle da pressão sanguínea localizado no cérebro da girafa; e dos músculos no pescoço do pica-pau, para mencionar apenas alguns de uma lista interminável que vai crescendo todos os dias? O mundo vivo está simplesmente repleto de mecanismos de atordoante complexidade.
Assim, não há dúvida de que a natureza causa uma avassaladora IMPRESSÃO de que há um projeto por trás de tudo.
(...) Bem poderíamos nos admirar com a capacidade desse surpreendente mecanismo evolucionário, com seu criativo poder de produzir vida e consciência a partir da matéria, sua habilidade de criar os magníficos padrões da natureza e de construir seus mecanismos para processar informações. Não uma Mente Divina, diz Richard Dawkins, mas um mecanismo puramente materialista e não guiado. Por mais tentador que seja pensar que a natureza tenha sido projetada visando a um propósito, ele afirma que não há necessidade de um "relojoeiro" divino.
"O único relojoeiro da natureza são as forças cegas da física, apesar de organizadas de uma maneira muito especial. Um verdadeiro relojoeiro tem previsão; ele projeta suas engrenagens e molas e planeja suas ligações, visualizando um propósito futuro. A seleção natural, o processo cego, inconsciente, automático, que Darwin descobriu, e que nós agora sabemos ser a explicação da existência e da forma aparentemente proposital de toda vida, não visualiza um propósito. Ela não tem nem mente, nem visão mental; ela não planeja o futuro. Ela não tem absolutamente nenhuma visão, nem previsão, nem vislumbre. Se se pode dizer que ela desempenha um papel de relojoeiro da natureza trata-se do papel de relojoeiro cego." (Lessons from Biology, Natural History nº 97, 1988 , pg 14).
Dawkins alega que nada além das leis físicas é necessário - um ponto muito importante ao qual devemos voltar mais adiante.















A EVOLUÇÃO ELIMINA A NECESSIDADE DE UM CRIADOR?

(...) De fato, não muito tempo depois da publicação de A ORIGEM DAS ESPÉCIES de Charles Darwin, o famoso ateu americano Robert Green Ingersoll escreveu que o séc. 19 seria o "Século de Darwin", quando "Sua doutrina da evolução... tiver removido de cada mente pensante o último vestígio do cristianismo ortodoxo".(Orthodoxy).
Essa ideia foi repetida por Sir Julian Huxley quando, em Chicago, no centenário da obra de Darwin em 1959, ele resumiu como via as implicações da evolução:
"No esquema evolucionário de pensamento já não há nem necessidade nem espaço para o sobrenatural. A Terra não foi criada; ela evoluiu. Também evoluíram todos os animais e as plantas que nela habitam, inclusive a nossa alma, mente e identidade humana, bem como o nosso cérebro e corpo. O mesmo aconteceu com a religião..." (Evolution After Darwin, Sol Tax.)
Na opinião de Huxley acima, a evolução desaloja Deus, apresentando-nos uma explicação puramente naturalista da origem, não apenas da vida, mas também das faculdades mais altas da consciência e do pensamento.
Essa visão de que o ateísmo é uma consequência lógica da teoria evolucionária não se encontra apenas em livros de divulgação científica popular, mas também em livros didáticos universitários. Tome-se, por exemplo, a seguinte afirmação de um conceituado livro-texto universitário sobre a evolução, escrito por Monroe Strickberger, do Museu de Zoologia dos Vertebrados de Berkeley, Califórnia:
"O medo de que o darwinismo fosse uma tentativa de desalojar Deus na esfera da criação se justificava. Para a pergunta: 'Há um propósito divino para a criação de seres humanos?', a evolução responde: NÃO. De acordo com a evolução, a adaptação de espécies e a adaptação de seres humanos provém da seleção natural, não de um DESIGN [projeto]."(Evolution, pg. 62).
(...) Causa, portanto, pouca surpresa o fato de existir um sentimento generalizado de que a teoria da evolução tenha varrido Deus como algo desnecessário e irrelevante, quando não embaraçoso. 
Assim, temos diante de nós uma situação bastante estranha: De um lado, há a quase instintiva e avassaladora tentação de inferir da existência e da natureza das informações biológicas que elas têm uma origem inteligente.
De outro lado, algumas das pessoas (...) opõem-lhe forte resistência, porque estão convencidas de que não existe a necessidade de nenhum projetista; processos evolucionários não dirigidos, aleatórios podem ser, e foram, a causa de tudo.
[Richard Dawkins] (...) não tem dúvidas de que, com Darwin, nós atingimos um imenso divisor de águas na história do pensamento:
"Nós já não temos de recorrer à superstição quando enfrentamos profundos problemas: Há um significado para a vida? Para que estamos aqui? O que é o homem? ..." (The Selfish Gene, pg. 1).
O argumento de Dawkins é que, se os mecanismos evolucionários podem explicar o aparente PROJETO do universo, então a inferência de uma origem inteligente é falsa. Ele nos diz que não podemos ter ambos: Deus e a evolução. Uma vez que tudo pode ser explicado pela evolução, não há Criador. A evolução leva ao ateísmo.


A EVOLUÇÃO EXCLUI DEUS?

[Contudo] (...) Pode-se, portanto, certamente argumentar que... tanto da sintonia fina do Universo no nível físico quanto da capacidade de seus processos de produzir vida orgânica mediante um processo de evolução, é, em si mesma, forte evidência de uma inteligência criativa.
Não surpreende, portanto, o fato de que essa visão teísta evolucionária tenha sido elogiada por muitos cientistas ... até os dias de hoje. 
(...) Na Grã-Bretanha, por exemplo,  Ghillean Prance, ex-diretor do mundialmente famoso jardim botânico Kew Gardens de Londres; Brian Heap, ex-vice-presidente da Royal Society; Bob White, professor de Geologia da Universidade de Cambridge; Simon Conway Morris, professor de paleobiologia da mesma universidade; Sam Berry, professor de biologia evolucionária na Universidade de Londres; Denis Alexander, diretor do Instituto Faraday, em Cambridge. São todos distintos biólogos evolucionistas contemporâneos que são teístas, e também cristãos. Nos Estados Unidos temos Francis Collins, diretor do Projeto Genoma Humano, que cunhou o termo BIOLOGOS em preferência ao termo "evolução teísta". Com veemência, todos eles rejeitariam como inválida qualquer tentativa de deduzir o ateísmo a partir da teoria evolucionista. Como ressalta Alister MacGrath: "Há uma verdadeira lacuna lógica entre o Darwinismo e o ateísmo que Richard Dawkins prefere preencher com sua retórica, deixando de lado as evidências".(Dawkin's God, pg. 81).
(...) Stephen Jay Gould diz que "a ciência simplesmente não pode - mediante seus métodos legítimos - julgar a questão da possível existência de Deus. Nós nem a afirmamos, nem a negamos; nós simplesmente não podemos, como cientistas, comentá-la."(Impeaching a Self-Appointed Judge, Scientif American, 267, 1992, pg. 118-121).


A PERGUNTA QUE NINGUÉM OUSA FAZER

É verdadeira a alegação de Richard Dawkins de que a seleção natural explica não apenas a FORMA da vida, mas também sua EXISTÊNCIA?
Ora, fazer essa pergunta é muito arriscado. Até mesmo fazer algo tão revolucionário como questionar a constância da velocidade da luz não provoca nada parecido com o furacão desencadeado contra a pessoa que ousa duvidar da validade de certos aspectos da síntese neo-darwinista. De fato, a questão provoca Dawkins de modo tão sério que ele chega a proclamar sua crença (bastante inesperada) num absoluto: "É absolutamente seguro dizer que se você encontra alguém que afirma não crer na evolução, essa pessoa é ignorante, obtusa ou demente". (Put Your Money on Evolution, The New York Times Review of Books, 9/4/1989, pg. 34, 35). Até a formulação "AFIRMA não crer na evolução" mostra a total incredulidade de Dawkins de que alguém pudesse realmente ter dúvidas...
Assim enfrento agora uma importante decisão: devo prosseguir e arriscar um Certificado de Demência conferido por Dawkins? Por que não parar, já satisfeito com a argumentação feita até aqui? Bem, além, da razão que acabei de apresentar, a mera veemência do protesto me fascina. Por que ele é tão forte? Além disso, por que é apenas em relação a essa área do trabalho intelectual que já ouvi um eminente cientista com um Prêmio Nobel em seu nome, nada menos que isso, dizer numa palestra pública em Oxford: "Não se deve questionar a evolução"? Afinal, os cientistas tiveram coragem de questionar até Newton e Einstein. De fato, a maioria de nós ... aprendeu a acreditar que o questionamento da sabedoria estabelecida era uma das maneiras mais importantes de crescimento da ciência. Toda ciência, por mais estabelecida que esteja, se beneficia por ser periodicamente questionada. Então, por que esse tabu acerca do questionamento da evolução? Por que essa área, e apenas essa área específica da ciência, é proibida, protegida de questionamentos?
Um eminente paleontólogo chinês, Jun-Yuan Chen, viu-se diante desse problema quando visitou os EUA em 1999. Sua obra sobre descobertas notáveis de estranhas criaturas fósseis em Chengjiang o levou a questionar a linha evolucionária ortodoxa. De forma bastante erudita, ele mencionou suas críticas em palestras, mas elas despertaram pouco interesse. Essa falta de reação o surpreendeu e, assim, ele no fim perguntou a um de seus anfitriões o que havia de errado. Ele soube então que os cientistas americanos não gostavam de ouvir tais críticas à evolução. Ao que ele deu uma deliciosa resposta, dizendo que lhe parecia que a diferença entre os EUA e a China era a seguinte: "Na China nós podemos criticar Darwin, mas não o governo. Nos EUA vocês podem criticar o governo, mas não Darwin".
(...) Donald Mckay, um especialista em pesquisas de redes de comunicação do cérebro...
"A 'evolução' começou a ser invocada na biologia, aparentemente como uma substituta para Deus. E se na biologia, por que não em outras áreas? Depois de ser empregado como uma hipótese técnica ... o termo foi rapidamente distorcido para significar um princípio metafísico ateu, cuja invocação podia livrar o homem de qualquer arrepio teológico diante do Universo. Escrito com E maiúsculo e desonestamente ornado com o prestígio de teoria científica da evolução (o que ... não lhe conferiu nenhum pingo de justificativa), o 'Evolucionismo' tornou-se o nome de toda filosofia antirreligiosa, na qual a 'Evolução' desempenhou o papel de uma divindade mais ou menos pessoal, como a 'verdadeira força do Universo'".(The Clockwork Image, pg 52).

O questionamento da evolução, MESMO SOBRE BASES CIENTÍFICAS, está cheio de riscos. Por isso, aos olhos de muitos, equivale a questionar o que, para eles, é simplesmente factual em virtude de uma necessidade filosófica; e assim quem questiona corre o risco de ser classificado - quando não certificado - como membro de uma facção de lunáticos. Mas, por ironia, esse tipo de atitude é precisamente o que enfrentou Galileu. Há um luminoso paralelo entre o aristotelismo de sua época e o naturalismo da nossa. Galileu correu o risco de questionar Aristóteles, e todos nós sabemos o que lhe aconteceu. Também sabemos quem estava certo. A questão é a seguinte: Será que aprenderemos alguma coisa de tudo isso? Darwin precisa ser protegido da maneira como foi Aristóteles? Afinal, era um fato claro, não era mesmo, que a Terra não se movia?

No próximo capítulo, analisaremos mais a fundo a natureza e o escopo da evolução. Até lá!
Trechos do capítulo 5 de Por Que a Ciência não Consegue Enterrar Deus, do matemático e pesquisador John Lennox. Ed. Mundo Cristão)