domingo, 22 de junho de 2014

A Ciência Precisa do Ateísmo? - parte XII - Conclusões na Biologia e Filosofia e Considerações Finais


CONCLUSÕES ÀS CONSIDERAÇÕES NA BIOLOGIA DE UM PROJETISTA INTELIGENTE

O biofísico Dean Kenyon, coautor de um livro-texto definitivo sobre a origem da vida (Biochemical Predestination), diz que quanto mais se tem aprendido nos últimos anos sobre detalhes químicos da vida, da biologia molecular e dos estudos da origem da vida, tanto menos provável se torna uma explicação rigorosamente naturalista [ateísta] das origens. Os estudos de Kenyon o levaram à conclusão de que a informação biológica foi projetada:
"Se a ciência se baseia na experiência, então a ciência nos diz que a mensagem codificada no DNA deve ter-se originado de uma causa inteligente. Que tipo de interferência inteligente foi essa? Por si só, a ciência não consegue responder a essa pergunta; ela deve deixar que a religião e a filosofia respondam. Mas isso não deveria impedir que a ciência reconhecesse provas de uma origem a partir de uma causa inteligente, onde quer que elas possam existir."(Davis e Kenyon, Of Pandas & People: The Central Question of Biological Origins, pg. 7).

 Allan Sandage, ... amplamente conhecido como o maior cosmólogo vivo:
"O mundo é complicado demais em todas as suas partes e interconexões para ser atribuído apenas ao acaso. Eu estou convencido de que a existência da vida, com toda a sua ordem em cada um de seus organismos, é simplesmente bem montada demais."(A Scientist Reflects on Christian Belief, Truth 1, 1985, pg. 54).

 O ponto crucial da questão é este: Será que estamos preparados para seguir na direção das provas - mesmo quando elas nos afastam de uma pressuposição puramente naturalista? Se existe um Criador, então deveríamos descobrir duas coisas. 1º, não deveríamos ficar surpresos se nossas tentativas de entender o Universo com base em pressupostos naturalistas são, em sua grande maioria, bem-sucedidas, pela razão muito simples de que a natureza está presente, acreditemos ou não num Criador (nós não a pusemos ali). Em 2º lugar, vamos provavelmente descobrir que existem algumas, relativamente poucas - e boas -  lacunas, que de fato se tornam cada vez mais opacas e não cedem a nenhuma metodologia puramente naturalista. Mas elas tem grande importância, como podemos ver fazendo uma lista de quais são elas: a origem do Universo, sua inteligibilidade racional, sua sintonia fina, a origem da vida, a origem da consciência, a origem da racionalidade e o conceito de verdade, as origens da moral e da espiritualidade. Este livro [o livro original de John Lennox] consegue apenas contribuir, com um modesto começo, com as primeiras desta lista.

Agora, é preciso enfatizar com muito vigor que, se existem algumas lacunas "boas" que apontam para um Criador, isso não significa de modo algum que elas sejam as únicas evidências que a ciência oferece da existência dele. Elas são ADICIONAIS em relação ao corpo principal de evidências apresentadas pela maravilha da criação como um todo. No fim das contas, a teologia cristã séria sustenta que Deus não apenas criou o Universo em sua origem, mas que Ele está constantemente ativo, sustentando-o com todos os seus processos - sem ele o Universo deixaria de existir. As parcelas dele que conhecemos em termos de física e química nos mostram sua glória de modo totalmente independente de qualquer interpretação que possamos fazer das parcelas que não entendemos nesses termos.

Os materialistas, por definição, obviamente vão rejeitar a priori a possibilidade da existência de lacunas "boas", que apontam para a atividade de um Criador. Para aqueles que acreditam em Deus, a situação é diferente. Eles acreditarão, no mínimo, que Deus causa a existência do Universo e, portanto, ele é responsável por seus processos naturais. Depois surge a questão de saber se todos esses processos devem ser vistos como causados indiretamente ou definitivamente por Deus, no sentido de que eles acontecem num Universo pelo qual ele, em última análise, é responsável, ou se alguns dos processos ou eventos que acontecem no Universo podem envolver alguma espécie de ação direta da parte de Deus.

Já argumentei antes que o detalhes da biologia aponta para o LOGOS por trás da vida. Parte das evidências disso tem a ver com o limite da capacidade de seleção e mutação - o limite da evolução - mas o principal argumento concentrou-se na origem da vida e seu código digital.

... Registramos agora uma interessante analogia que o eminente filósofo alemão Robert Spaemann apresenta para ilustrar a falha no raciocínio ateu sobre biologia. Ele se refere ao trabalho da musicóloga Helga Thoene, que descobriu na sonata para violino em sol bemol, de Bach, um extraordinário código duplo. Ela descobriu que se aplicarmos à música um esquema formal de números correspondentes às letras do alfabeto, ali aparece o seguinte provérbio antigo: "Em Deus nascemos, em Cristo morremos, por meio do Espírito Santo revivemos." É claro que ninguém precisa conhecer esse texto oculto para apreciar a sonata - ela tem sido apreciada por centenas de anos por pessoas que não faziam nenhuma ideia de que a mensagem estava presente. Mas foi o gênio de Bach que codificou uma espécie completamente diferente de mensagem musical que, julgada UNICAMENTE POR CRITÉRIOS DE MUSICOLOGIA, é música maravilhosa.

Esse, segundo Spaemann, é o problema dos novos ateus e de sua atitude em relação à biologia evolucionária:

"Você pode descrever o processo evolucionário, se assim decidir, em termos puramente naturalistas. Mas o texto que nesse caso aparece quando você vê uma pessoa, quando presencia um gesto bonito ou está diante de um belo quadro, só pode ser lido se você usar um código completamente diferente."

Spaemann prossegue imaginando uma musicóloga dizendo que a música se explicava a si mesma completamente; que foi apenas por acaso que a mensagem saltou para fora e, sendo assim, é suficiente interpretar apenas a música, sem pensar em nenhum texto. Isso não desafiaria nossa incredulidade? Claro que sim.  Nem sequer por um momento aceitaríamos que o texto aconteceu de estar presente por acaso, sem que ninguém o tivesse codificado. O mesmo acontece com a ciência. Você pode, se quiser, restringir-se a uma ciência puramente naturalista. Mas nesse caso você não pode ter a esperança de explicar o texto que aparece. A musicóloga, como tal, sabe explicar como a música foi composta; mas apenas se ignorar o texto. Os novos ateus pareceriam estar exatamente nessa posição. Eles ignoram o "texto", que é a pessoa com toda a rica complexidade de sua vida, conversação e pensamento.


FILOSOFIA: OS ARGUMENTOS DE DAVID HUME

Se existe um Deus que criou o Universo, então certamente não existe nenhuma dificuldade em acreditar que ele poderia fazer coisas especiais. Saber se de fato ele fez isso em alguma ocasião específica é, naturalmente, uma outra questão. Francis Collins sabiamente observa:

"É crucial que se aplique um ceticismo sadio na interpretação de eventos potencialmente miraculosos, para evitar que se venha a questionar a integridade e racionalidade da perspectiva religiosa. A única coisa que pode acelerar a morte da possibilidade de milagres, mais ainda do que o materialismo engajado, é a reivindicação de STATUS de milagre para eventos do dia a dia, para os quais há explicações naturais ao alcance da mão." (The Language of God).

Também é preciso deixar claro desde o início que há uma importante distinção a fazer entre milagres e eventos sobrenaturais. Os milagres (que são genuinamente milagres) são eventos sobrenaturais, mas nem todos os eventos sobrenaturais são milagres no sentido estrito. Por exemplo: a origem do Universo e de suas leis, embora seja um evento sobrenatural, não pertence à categoria de milagre, porque os milagres, num sentido rigoroso, dizem respeito a eventos que são exceções a um reconhecido processo normal de coisas, e, desse modo, eles claramente pressupõem a existência desse "processo normal de coisas". A criação do Universo, juntamente com suas regularidades que formam o "processo normal de coisas", não pode ser vista como uma exceção a ele.

Observamos aqui que Richard Dawkins confessa não saber o que causou a origem do Universo, mas acredita (sim, ELE TEM FÉ) que haverá um dia uma explicação naturalista disso. Como disse num debate comigo [John Lennox]..., ele não precisa recorrer à magia para explicar o Universo. No entanto, ... após o debate, ele respondeu a uma pergunta ... dizendo que acreditava que o Universo pudesse simplesmente ter surgido do nada. ... Dawkins... disse depois que uma explicação do Universo em termos de ... "homenzinhos verdes" fazia mais sentido do que postular um Criador. Qualquer coisa, exceto Deus, é a impressão que fica.

Em geral se acredita que expressão mais contundente da ideia amplamente defendida de que a ciência tornou os milagres impossíveis é de autoria do filósofo iluminista escocês David Hume, morto em 1776. Hume foi um filósofo naturalista cético que, em seu famoso ensaio Investigação Acerca do Entendimento Humano, escreveu:

"Um milagre é uma violação das leis da natureza; e uma vez que a experiência firme e inalterável estabeleceu essas leis, a prova contra um milagre, a partir da própria natureza do fato, é tão cabal como qualquer argumento da experiência que se possa imaginar. Não constitui nenhum milagre o fato de que um homem, aparentemente em bom estado de saúde, venha subitamente a morrer: porque esse tipo de morte, embora mais incomum que qualquer outro, tem sido, todavia, constatado com frequência. Mas se um morto voltasse à vida, isso seria um milagre, pois é um fato que nunca foi constatado, em nenhuma época, em nenhum lugar. Deve haver, portanto, uma experiência uniforme que contrarie todos os eventos miraculosos, caso contrário esses eventos não mereceriam essa denominação." (Hume, Abstract of a Treatise on Human Nature.)

 Hume nega o milagre porque o milagre iria contra as leis uniformes da natureza. Mas em outra parte ele nega a uniformidade da natureza! O simples fato de termos constatado o surgir do sol durante milhares de anos não significa que podemos ter certeza de que ele surgirá amanhã. Não se pode predizer o futuro com base na experiência do passado, diz Hume. Mas se isso fosse verdade, vejamos qual seria sua implicação em particular. Suponhamos que Hume esteja certo: que nenhum homem jamais deixou sua sepultura ao longo de toda a história da Terra até o presente; então, pela própria argumentação dele, Hume não pode ter certeza de que um morto não possa ressuscitar amanhã. Sendo assim, ele não pode excluir o milagre. E agora, o que aconteceu com a insistência de Hume nas leis e na uniformidade da natureza? Ele explodiu exatamente o fundamento em que se baseia para negar a possibilidade de milagres.

A mesma argumentação funcionaria igualmente bem tanto para o passado, quanto para o futuro. Por exemplo, o fato de não ter havido a constatação de ninguém ressurgindo dos mortos nos últimos mil anos não é garantia de que não houve ressurreição antes disso. Para ilustrar esse caso, poderíamos dizer que a experiência uniforme ao longo dos últimos 300 anos mostra que reis são decapitados na Inglaterra. Se você soubesse disso e fosse confrontado com a alegação de que o rei Carlos I foi decapitado, poderia se recusar a crer no fato por ele contrariar a experiência uniforme. Você incorreria num erro! Ele foi decapitado. Uniformidade é uma coisa. Uniformidade absoluta é outra.

... Hume vem sendo, em grande parte, responsável pela tão difundida visão contemporânea sustentada pelos novos ateus de que nós  temos uma escolha honesta entre alternativas mutuamente excludentes. Ou se acredita em milagres, ou se acredita no entendimento científico das leis da natureza, mas não nas duas possibilidades. E a segunda, obviamente, na opinião deles é a única opção para quem é inteligente.

Richard Dawkins alega que:

"O séc. 19 foi a última época em que era possível que uma pessoa escolarizada admitisse crer, sem sentir embaraço, em milagres como o do nascimento virginal. Quando pressionados, muitos cristãos instruídos são excessivamente leais para negar o nascimento virginal e a ressurreição. Mas isso lhes causa embaraço,  porque suas mentes racionais sabem que se trata de absurdos, de modo que eles prefeririam não ouvir essas perguntas."(The God Delusion, pg. 187).

Bem, isso com certeza não me causa embaraço. Na verdade, o caso não pode ser tão simples como pensa Dawkins, pois há eminentes cientistas com um alto grau de intelecto, tais como John Polkinghorne; Francis Collins, que sucedeu a James Watson como diretor do Projeto Genoma Humano; e William Phillips, laureado com o prêmio Nobel de Física, que, embora conhecendo muito bem o argumento de Hume, apesar disso, publicamente e sem sentir embaraço ou ter uma sensação de falta de lógica, afirmam sua crença no sobrenatural e, em particular, na ressurreição de Cristo, que eles consideram como a prova suprema da verdade da crença cristã.

Isso mostra que evidentemente, para ser cientista, não é necessário que se rejeite em princípio a possibilidade - ou a realidade - de milagres.

 É compreensível ... que muitos cientistas rejeitem a ideia de que algum deus pudesse, arbitrariamente intervir e alterar, suspender, reverter ou, d'outra maneira, violar essas leis da natureza. Pois isso lhes pareceria contrariar a imutabilidade dessas leis, e assim derrubar a própria base do entendimento científico do Universo. Como corolário disso, muitos cientistas apresentariam 2 argumentos.

ARGUMENTO 1: A crença em milagres em geral, e nos milagres do Novo Testamento em particular, surgiu numa cultura primitiva, pré-científica, em que as pessoas ignoravam as leis da natureza e assim aceitavam histórias de milagres com facilidade.

Hume endossa essa visão, quando diz que relatos de milagres "são observados em grande número principalmente em nações ignorantes e bárbaras". No entanto, por mais plausível que essa explicação possa parecer à primeira vista, é na verdade um absurdo quando ela é aplicada aos milagres do Novo Testamento. Pois um milagre de reflexão mostrará que, para reconhecer algum evento como um milagre, deve haver uma certa regularidade em relação à qual esse evento aparenta ser uma exceção! Não se pode reconhecer algo como anormal, se não se sabe o que é normal.

Isso foi reconhecido num passado muito remoto. É interessante ver que o antigo historiador Lucas, um doutor educado na ciência médica de sua época, começa sua biografia de Cristo levantando exatamente essa questão (Lc 1.5-25). Ele narra a história de um homem, Zacarias, e de sua mulher, Isabel, que por muitos anos haviam orado pedindo um filho porque ela era estéril. Quando, na velhice, um anjo apareceu a Zacarias e lhe disse que suas antigas preces haviam sido atendidas e que sua mulher conceberia e daria à luz um filho, ele, de modo educado mas firme, se recusou a acreditar. A razão que apresentou foi que agora ele estava velho, e o corpo de sua mulher era decrépito. Ele e sua mulher terem um filho nesse estágio seria contrariar tudo o que ele sabia sobre as leis da natureza. O que é interessante em relação a Zacarias é o seguinte: ele não era ateu; era um sacerdote que acreditava em Deus, na existência de anjos e no valor da oração. Mas se o cumprimento de suas preces envolvesse uma reversão das leis da natureza, ele não estava preparado para acreditar.

Lucas mostra nesse caso que é óbvio que os primeiros cristãos não eram um bando de gente crédula, sem consciência das leis da natureza, e, portanto, disposta a acreditar em qualquer história miraculosa, por mais absurda que fosse. Os primeiros cristãos tinham dificuldade de acreditar num milagre desse gênero, exatamente como qualquer outra pessoa. Se, no fim, eles acreditavam que um milagre acontecera, era porque eles haviam sido forçados a fazê-lo pelo simples peso das provas diretas que lhes foram apresentadas, não por causa de sua ignorância das leis da natureza.

De modo semelhante, em seu relato sobre o surgimento do cristianismo, Lucas nos mostra que a primeira oposição à mensagem cristã da ressurreição de Jesus Cristo veio não de ateus, mas dos sumos sacerdotes saduceus do judaísmo (At 4.1-21). Eles eram homens muito religiosos. Acreditavam em Deus. Faziam suas orações e conduziam serviços religiosos no templo. Mas isso não significa que eles acreditaram na 1ª vez que ouviram a declaração de que Jesus havia ressuscitado dentre os mortos. Não acreditaram nisso; Pois haviam adotado uma cosmovisão que negava absolutamente a possibilidade da ressurreição corporal de quem quer que fosse, quanto mais de Jesus Cristo. (At 23.8).

Supor, então, que o cristianismo nasceu num mundo pré-científico, crédulo e ignorante é simplesmente falso em relação aos fatos. O mundo antigo conhecia tão bem como nós a lei da natureza segundo a qual corpos mortos não se levantam e deixam suas sepulturas. O cristianismo abriu seu caminho por meio do simples peso de evidências de que um homem havia de fato ressuscitado dentre os mortos.

ARGUMENTO 2: Agora que conhecemos as leis da natureza, a crença em milagres é impossível.

… A Lei de Newton nos diz que, se eu deixar cair uma maçã, ela cairá em direção ao centro da Terra. Mas essa lei não impede que alguém intervenha e apanhe a maçã que vai caindo. Em outras palavras, a lei prediz o que acontecerá, desde que não haja mudança nas condições nas quais se realiza o experimento.

Assim, do ponto-de-vista teísta, as leis da natureza preveem o que está fadado a acontecer se Deus não interferir; embora, naturalmente, não haja nenhum ato de furto se o Criador interferir em sua própria criação. Argumentar que as leis da natureza impossibilitam nossa crença na existência de Deus e em sua interferência no Universo é claramente uma falácia. Seria como alegar que o entendimento das leis que regem o comportamento do motor de combustão interna impossibilita a crença de que o projetista do carro, ou um de seus mecânicos, pudesse interferir ou interferisse, removendo a tampa do cabeçote. É claro que eles poderiam interferir. Além disso, a intervenção não destruiria aquelas leis. Exatamente as mesmas leis que explicavam por que o motor funcionava com a tampa do cabeçote instalada agora explicam por que ele não funciona sem essa peça.

É, portanto, inexato e enganoso dizer como Hume que os milagres “violam” as leis da natureza. C. S. Lewis ajuda muito:

“Se Deus aniquila, ou cria, ou desvia uma unidade da matéria, ele cria uma nova situação nesse ponto. Imediatamente toda a natureza abriga essa nova situação, deixa-a à vontade em sua esfera, adapta a ela todos os outros eventos. E ela se vê adaptada a todas as leis. Se Deus cria um espermatozóide miraculoso no corpo de uma virgem, este não age violando lei alguma. As leis imediatamente assumem o comando. A natureza está a postos. Segue-se a gravidez, de acordo com todas as leis normais, e 9 meses mais tarde, nasce uma criança.”(Miracles, pg. 63).

Nessa mesma linha, poderíamos dizer que é uma lei da natureza que seres humanos não ressurgem dentre os mortos MEDIANTE ALGUM MECANISMO NATURAL. Mas os cristãos não alegam que Cristo ressurgiu dentre os mortos por meio de um mecanismo desse gênero. Eles alegam que Ele ressurgiu dentre os mortos mediante uma injeção de poder sobrenatural. Por si mesmas, as leis da natureza não podem excluir essa possibilidade. Quando acontece um milagre, é o nosso conhecimento das leis da natureza que nos alerta sobre o fato de que se trata de um milagre. É importante entender que os cristãos não negam as leis da natureza, como Hume...  os acusa de fazer. A verdade é exatamente o contrário. Faz parte da posição cristã acreditar nas leis da natureza como descrições dessas regularidades e relacionamentos de causa e efeito embutidas por seu Criador no Universo, que normalmente opera de acordo com isso. Se não conhecêssemos essas regularidades, jamais reconheceríamos um milagre se ele acontecesse diante de nossos olhos.

 Qualquer autor nos diz que, por definição, os milagres são exceções àquilo que normalmente acontece. Se os milagres fossem normais, eles não seriam chamados de milagres! O que, nesse caso, quer dizer Hume quando fala de “experiência uniforme”? Uma coisa é dizer: “A experiência mostra que isso e aquilo normalmente acontecem, mas pode haver exceções, embora nenhuma tenha sido observada; isto é, a experiência que tivemos tem sido uniforme”. E outra coisa inteiramente diferente é dizer: “Isso é o que nós normalmente experimentamos e deveremos sempre experimentar, pois não há nem pode haver nenhuma exceção”.

Hume parece preferir a segunda definição. Para ele, um milagre é algo que nunca foi experimentado, pois se tivesse sido experimentado, já não seria possível chamá-lo de milagre. Mas essa é uma afirmação muito arbitrária. Por que não pode ter ocorrido uma série de milagres no passado, bem como o milagre em particular que podemos estar discutindo neste momento? O que Hume faz é supor o que ele quer provar: que nunca houve milagre algum no passado, e assim há uma experiência uniforme contra a possibilidade de esta instância presente ser um milagre. Mas aqui sua argumentação se envolve com um sério problema. Como é que ele sabe? Para saber que a experiência contra os milagres é absolutamente uniforme, ele precisaria ter acesso total a todos os eventos do Universo em todos os tempos e lugares, o que é, evidentemente, impossível. Tem-se a impressão de que Hume se esqueceu de que os humanos, ao longo de todos os tempos, observaram apenas uma fração minúscula da soma total dos eventos que ocorreram no Universo. Ele também se esqueceu de que … um número muito reduzido de observações humanas foi registrado por escrito. Portanto, Hume não pode saber que milagres jamais aconteceram. Ele simplesmente está supondo o que pretende provar: que a natureza é uniforme e nenhum milagre jamais aconteceu! Hume incorre numa petição de princípio.

A única alternativa real para a argumentação circular de Hume, obviamente, é estar aberto à possibilidade de que milagres aconteceram. Essa é uma questão histórica, não filosófica, e ela depende de testemunhos e provas. Mas Hume não parece disposto a considerar a pergunta sobre a possibilidade de haver alguma prova histórica da ocorrência de um ou mais milagres. Ele simplesmente nega isso, alegando que a experiência contra milagres é “firme e inalterável”. Mas... sua alegação não tem nenhuma consistência, a não ser que ele tenha demonstrado que todos os relatos de milagres são falsos. De modo singular, ele nem tenta fazer isso, e assim, pura e simplesmente, não há como ele conhecer a resposta. Os novos ateus o seguem feito ovelhas.

… Eu insisto mais uma vez que se pode, portanto, concordar com Hume que a “experiência uniforme” mostra que a ressurreição por meio de um mecanismo natural é extremamente improvável, e podemos excluí-la. Mas os cristãos não alegam que Jesus ressuscitou por meio de algum mecanismo natural. Eles alegam algo totalmente diferente: Que Deus o ressuscitou dentre os mortos. E se existe um Deus, por que isso deveria ser considerado impossível?

Concluo, portanto, que não há nenhuma objeção científica, em princípio, à possibilidade de milagres. Com certeza, então, a atitude sem preconceitos exigida pela razão é prosseguirmos agora investigando as evidências para estabelecer os fatos, preparados para seguir aonde o processo conduz, mesmo que isso implique alterações de nossas ideias a priori. Nunca saberemos se há realmente um rato no sótão se não formos lá verificar!


CONSIDERAÇÕES DE TODOS OS ARTIGOS ESCRITOS


  Até aqui argumentei que, embora a ciência com todo o seu poder não possa tratar de algumas questões fundamentais que levantamos, mesmo assim o Universo contém certas pistas sobre nosso relacionamento com ele, pistas que são cientificamente acessíveis. A inteligibilidade racional do Universo, por exemplo, aponta para a existência de uma mente que foi responsável tanto pelo Universo quanto por nossas mentes. É por esse motivo que nós podemos fazer ciência e descobrir as belas estruturas matemáticas latentes nos fenômenos que observamos. Não só isso, mas também nossa crescente percepção da sintonia fina do Universo em geral, e do Planeta Terra em particular, é consistente com a muito difundida consciência de que fomos concebidos para estarmos aqui. A Terra é nossa casa.

Mas se há uma mente por trás do Universo, e se essa Mente tenciona que estejamos aqui, a questão realmente importante é essa: Por que estamos aqui? Qual é o propósito de nossa existência? É essa questão, acima de tudo, que atormenta o coração humano. A análise científica do Universo não nos pode dar uma resposta, assim como uma análise científica do bolo da tia Matilde não saberia nos dizer por que ela fez o bolo. A investigação científica do bolo pode nos dizer que ele é bom para seres humanos; pode até nos dizer que é muito provável que ele tenha sido concebido tendo em mente seres humanos, pois guarda uma sintonia fina com as exigências nutricionais deles. Em outras palavras, a ciência pode conseguir apontar para a conclusão de que há um propósito por trás do bolo; mas precisamente qual seja esse propósito, a ciência não consegue nos dizer. Seria absurdo procurá-lo dentro do bolo. Só a tia Matilde pode nos revelar esse propósito. A verdadeira ciência não se sente embaraçada diante de sua incapacidade nesse ponto – ela simplesmente reconhece que não está equipada para responder a questões desse gênero. Portanto, seria um grave erro lógico de metodologia investigar apenas os ingredientes do Universo – seu material, suas estruturas e processos – para descobrir qual é seu propósito e por que estamos aqui. A resposta final, se é que ela existe, terá de vir de fora do universo, de algo ou de alguém que tenha com o Universo um relacionamento similar ao da Tia Matilde em relação a seu bolo.

 Mas como vamos descobrir isso? Nós argumentamos que há evidências da existência de uma Mente por trás do Universo, uma Mente que planejou para que estivéssemos aqui. E nós temos mentes. Não é, portanto, nada ilógico que uma das razões principais de termos sido dotados com mentes não é apenas para que pudéssemos explorar a fascinante casa de nosso Universo, mas também para que pudéssemos entender a Mente que nos deu a casa.

Em grego, a palavra traduzida por “Verbo” é LOGOS , que foi muitas vezes empregada pelos filósofos gregos para designar o princípio racional que governa o Universo. Temos aqui a explicação teológica da inteligibilidade racional do Universo, da sintonia fina de suas constantes físicas e de sua complexidade biológica semelhante à da palavra. É o produto de uma mente, as do divino LOGOS. Pois o que está por trás do Universo é muito mais do que um princípio racional. É Deus, o próprio Criador. Não é nenhuma abstração, nem mesmo uma força impessoal, que está por trás do Universo. Deus, o Criador, é uma pessoa. E, assim como a tia Matilde não faz parte do bolo, tampouco Deus faz parte da matéria de seu Universo.

Se o Criador é pessoal, terá ele falado diretamente, de uma forma distinta daquilo que podemos aprender sobre ele indiretamente por meio das estruturas do Universo? Ele se revelou? Pois se há um Deus, e se Ele falou, então o que ele disse será de suma importância em nossa busca da verdade.

Aqui, mais uma vez, deparamos com a alegação bíblica de que Deus falou da maneira mais profunda e direta possível. Ele, a Palavra que é uma pessoa, tornou-se humano, para demonstrar plenamente que a verdade suprema por trás do Universo é pessoal. “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e verdade, e vimos a sua glória, glória do Unigênito do Pai.”(Jo 1.14).
Encerrando, sugiro que, longe de a ciência ter enterrado Deus, os resultados científicos não apenas apontam para a sua existência, mas a própria iniciativa científica é validada pela existência Dele.

É inevitável, obviamente, que todos nós, não apenas os que praticamos a ciência, temos de escolher o pressuposto com o qual vamos começar. Não há muitas opções. Essencialmente, apenas duas. Ou a inteligência humana deve sua origem à matéria desprovida de inteligência, ou há um Criador. É estranho que algumas pessoas aleguem que é sua inteligência que as leva a preferir a primeira opção.

(Trechos do capítulo 11, 12 e Conclusão de Por Que a Ciência não Consegue Enterrar Deus, do matemático e pesquisador John Lennox. Ed. Mundo Cristão)

quinta-feira, 5 de junho de 2014

A Ciência Precisa do Ateísmo? - parte XI - A Orígem da Vida: Uma Causação Inteligente ou o Acaso e Necessidade?



Nos capítulos anteriores dos textos selecionados de John Lennox, foi debatido sobre a informação genética, sua ligação com o DNA e a complexidade envolvida. Afirmar a existência de 7 bilhões de bits de informação no genoma humano nos dá alguma ideia – APENAS ALGUMA – de sua complexidade!

Vimos que os elementos do evolucionismo darwiniano relacionados à seleção natural, o acaso e a necessidade, em separado ou em conjunto, não conseguem explicar a biogênese, ou seja, a origem da vida. Precisamos considerar a possibilidade de que um terceiro fator esteja envolvido e este é a entrada de informação. Como vimos no artigo anterior:



“... É anticientífico e intelectualmente preguiçoso propor o que é, em essência, um tipo de solução envolvendo uma “inteligência das lacunas”, isto é, um “Deus das lacunas”. Ora, mesmo que a acusação deva ser levada à sério – no fim das contas é possível que um teísta seja intelectualmente preguiçoso e diga 'não consigo explicar isso, portanto foi feito por Deus' – é importante dizer que o que vale para um vale para outro. É também muito fácil dizer “a evolução fez isso”, quando não se tem a menor ideia de como isso aconteceu... sem uma base em evidências.… É tão fácil terminar como uma “evolução das lacunas” como com um “Deus das lacunas”... É até mais fácil terminar com uma “evolução das lacunas” do que com um “Deus das lacunas”, pois aquela conclusão provavelmente vai atrair menos crítica do que esta.”.



Tendo em mente que a arquitetura da escrita do DNA e a totalidade de informação contida nela tornam-a uma máquina irredutivelmente complexa, e considerando as tentativas de simulação em computador dessa linguagem, Steve Fuller opinou: 


“A própria perspectiva de simular a evolução num computador... já suporta a tese de um criador divino. Afinal, qualquer um desses programas de computador… é o produto de um design inteligente, não literalmente uma entidade que se organiza a si mesma sobrevivendo à beira do caos. Se os seres humanos conseguem programar um computador que gera um resultado com propriedades de auto-organização tão profundas, por que Deus não poderia?… A discussão do “design inteligente” como uma explicação alternativa da emergência da vida vai provavelmente ficar mais acalorada, à medida que os evolucionistas vão confiando cada vez mais em computadores para demonstrar que a história natural não é apenas complicada, mas genuinamente complexa. Isso porque ficará mais difícil distinguir uma posição da outra, e os evolucionistas vão jogar nos gramados dos teóricos do design inteligente. “(Steve Fuller, Science vs. Religion, Cambridge Polity, 2007, pg. 89)”.



Seguimos neste penúltimo artigo da série, apresentando seleções do Cap. X e XI do Livro POR QUE A CIÊNCIA NÃO CONSEGUE ENTERRAR DEUS, de John Lennox (Ed. Mundo Cristão):



INFORMAÇÃO E O ARGUMENTO DO “PROJETO”



A existência de suma informação especificada complexa (…) oferece um desafio fundamental para a ideia de que processos naturais não dirigidos podem explicar a vida, e torna cientificamente plausível a sugestão de que houve uma fonte inteligente responsável.


… A inferência do “projeto” a partir do DNA é muito mais forte do que seus predecessores clássicos pela seguinte razão apresentada nas palavras de Stephen Meyer:


“O DNA não implica a necessidade de um projetista inteligente por ele ter alguma similaridade com um programa de software ou com a linguagem humana. Ele implica a necessidade de um projetista inteligente porque... tem uma característica idêntica – quanto ao conteúdo informacional – àquela de textos humanos e linguagens de computador projetados de modo inteligente.” (Steve Fuller, Science vs. Religion, pg 23).


Meyer é apoiado pelo teórico da informação Hubert Yockey:

“É importante entender que não estamos raciocinando por analogia. A hipótese da sequência – de que o código genético funciona essencialmente como um livro – aplica-se diretamente à proteína e ao texto genético, bem como à linguagem escrita e, portanto, o tratamento é matematicamente idêntico.” (Self-Organization, Origin of Life Scenarios and Information Theory, Journal of Theor Biol. 91, 1981).


Não estamos, portanto, argumentando por analogia, mas sim inferindo a melhor explicação. E, como qualquer detetive sabe, causas que sabemos serem capazes de produzir um efeito observado é uma explicação melhor em relação àquele efeito do que causas que não sabemos se são capazes de produzir um efeito semelhante e… do que causas que sabemos que não são capazes de fazê-lo.


A BUSCA POR INTELIGÊNCIA EXTRATERRESTRE E SUAS IMPLICAÇÕES
 A NASA, administração espacial norte-americana, gastou milhões de dólares montando radiotelescópios para monitorar milhões de canais, na esperança de detectar uma mensagem de seres inteligentes de alguma outra parte no cosmos. (uma das principais provas de que há inteligência lá no espaço é que ela não tentou nos contatar!).

Embora alguns cientistas possam ver algumas atividades da SETI (Busca por Inteligência Extraterrestre) com certo ceticismo, ela pode levantar uma questão importante no que se refere ao preciso status científico da descoberta de inteligência. Como se pode reconhecer CIENTIFICAMENTE uma mensagem que emana de uma fonte inteligente e distingui-la de um ruído ambiental aleatório que emana do cosmos? Claramente, a única maneira possível de fazê-lo é comparar os sinais recebidos com padrões especificados com antecedência, considerados indicadores claros e confiáveis de inteligência – como uma longa sequência de números primos – e depois fazer uma inferência de “design”. Na SETI o reconhecimento de interferência inteligente é visto como parte que se insere no escopo da ciência natural. O astrônomo Carl Sagan pensava que uma única mensagem proveniente do espaço seria suficiente para nos convencer da existência em outro universo diferente do nosso.

Mas há outra observação crucial a fazer. Estão-se preparados para procurar provas científicas além do nosso planeta, por que hesitamos tanto em aplicar exatamente o mesmo raciocínio àquilo que pertence ao nosso planeta? Parece haver aqui uma gritante inconsistência que nos conduz ao ponto essencial da questão a qual nos referimos... Será que a atribuição de um projeto inteligente ao universo é ciência? Os cientistas… parecem se dar por muito satisfeitos por incluir... A SETI na esfera da ciência. Como justificar então, tanto furor quando alguns cientistas alegam que há provas científicas de causação inteligente da física ou na biologia? Certamente não existe nenhuma diferença em princípio. Será que o método científico não se aplica em toda parte?
 … Que deveríamos, então, deduzir da avassaladora quantidade de informação que está contida até mesmo no sistema vivo mais simples? Será que isso, por exemplo, não oferece evidências muito mais fortes de uma origem inteligente do que as que foram apresentadas a partir do argumento da sintonia fina do Universo – um argumento que, como vimos, convence muitos físicos de que nós humanos fomos concebidos para estarmos aqui? Isso não poderia constituir a evidência real de inteligência extraterrestre?

 Por ocasião do anúncio público da conclusão do Projeto Genoma Humano, seu diretor, Francis Collins, disse: “É com um sentimento de humildade e assombro que me dou conta de que tivemos um primeiro vislumbre de nosso manual de instruções, antes conhecido apenas por Deus”. Gene Myers, o cientista da computação que trabalhou no mapeamento do genoma... Disse:

“Somos deliciosamente complexos no nível molecular... Ainda não nos entendemos, o que é ótimo. Ainda existe um elemento mágico, metafísico… O que realmente me impressiona é a arquitetura da vida… o sistema é extremamente complexo. É como se tivesse sido projetado… Existe ali uma enorme inteligência. Não vejo isso como não científico. Outros veem, mas eu não.”


Muito recentemente, o filósofo Antony Flew apresentou como motivo de sua conversão à crença em Deus, depois de mais de 50 anos sendo ateu, o fato de que a investigação do DNA pelos biólogos “tem mostrado, pela quase inacreditável complexidade da organização necessária para produzir a vida, que uma inteligência deve ter tido participação nisso”. (Associated Press Report, 9/12/2004).






UMA IDEIA QUE NÃO É NOVA, MAS ESTÁ EM CIRCULAÇÃO HÁ SÉCULOS.


“No princípio era o Verbo … Todas as coisas foram feitas por intermédio Dele”, escreveu o apóstolo João, autor do quarto Evangelho. A palavra grega para “verbo” é LOGOS, um termo que foi usado por filósofos estoicos para designar o princípio racional por trás do Universo, que depois foi investido com sentidos adicionais por cristãos, que o empregaram para descrever a segunda pessoa da Trindade. O termo “verbo” em si nos transmite noções de comando, significado, código, comunicação – portanto, informação; bem como noções do poder criador necessário para realizar o que foi especificado por aquela informação. Assim, o verbo é mais fundamental do que massa-energia. Massa-energia pertence à categoria do criado. O Verbo não.


É de fato muito surpreendente que, no âmago da análise bíblica dos atos criativos, descartados por muitos com tanta arrogância, descobrimos exatamente o conceito que a ciência nos últimos tempos tem mostrado ser de suma importância: o conceito da informação.


 Essa noção central, de que o Criador é Deus, o Verbo, ou seja, a Palavra, se reflete na repetida frase: “E disse Deus [Haja luz...]” da narrativa judaica da criação, e é enfatizada em quase todas as declarações bíblicas em relação à criação. Tem particular interesse para nossa discussão a declaração: “Pela fé entendemos que foi o universo formado pela Palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem”(Hebreus 11.3). Essa citação da antiga literatura bíblica é extraordinária no sentido de que chama a atenção para as características básicas da informação, isto é, a informação é invisível. Os transmissores da informação podem ser visíveis – como o papel e a escrita, os sinais de fumaça, as telas da televisão ou o DNA – mas a informação em si é invisível.

No entanto, a informação não é apenas invisível: ela é imaterial, não é mesmo? Você está lendo este artigo; fótons saltam da página e são recebidos por seus olhos; são convertidos em impulsos elétricos e transmitidos para seu cérebro. Suponhamos que você transmita oralmente algumas informações deste livro para um amigo. As ondas sonoras carregam a informação de sua boca para o ouvido de seu amigo, e em seguida elas são convertidas em impulsos elétricos e transmitidas ao cérebro dele. Seu amigo agora tem as informações que se originaram em sua mente, mas nada material passou de você para ele. Os TRANSMISSORES da informação foram materiais, MAS A INFORMAÇÃO EM SI NÃO É MATERIAL.


A COMPLEXIDADE DE DEUS

Postular a existência de um ser que é ainda mais complexo do que aquilo que se está tentando explicar é algo que os cientistas fazem constantemente. Ao lermos um livro de 400 páginas intitulado DEUS, UM DELÍRIO, será que o fato de eu, como explicação, postular um ser chamado Richard Dawkins, que é imensuravelmente mais complexo do que o livro em si, deve ser considerado como uma não explicação?

E na verdade nós nem precisamos de 400 páginas para nos convencer de explicações válidas que são mais complexas do que as coisas a explicar. Por exemplo, imagine uma arqueóloga, apontando para duas marcas riscadas nas paredes de uma caverna até então inexplorada, exclame: "Inteligência humana!". Se seguirmos a lógica de Dawkins, reagiremos: "Não seja ridícula. Aqueles rabiscos são muito simples. No fim das contas, só há dois deles. Não constitui nenhuma explicação postular a existência de algo tão complexo como o cérebro humano para explicar esses simples rabiscos na parede de uma caverna!". Que diríamos então se a arqueóloga pacientemente prosseguisse, dizendo que aqueles dois "simples" rabiscos formam o ideograma chinês (ren) para designar um ser humano, isto é, eles têm uma dimensão semiótica - transmitem significado?

Será que continuaríamos sustentando que, em termos de atividade humana, aquelas marcas rabiscadas "não constituem nenhuma explicação"? É óbvio que não. Nós admitiríamos que a inferência da arqueóloga em relação a uma atividade inteligente é legítima. Mais ainda, veríamos com certeza que a explicação dos rabiscos, em termos de algo mais complexo do que os rabiscos em si mesmos, não levou ao fim da ciência. Aquelas marcas riscadas bem poderiam ser indícios importantes em relação à identidade, cultura e inteligência do povo que as fez, mesmo que elas não pudessem nos dizer tudo o que se poderia saber sobre aquele povo.

Por acaso não é espantoso o fato de que a nossa arqueóloga infere de imediato uma origem inteligente quando se defronta com dois rabiscos, ao passo que alguns cientistas, diante de uma sequência de 3,5 bilhões de letras que constituem o genoma humano, nos informam que devemos explicar isso unicamente em termos de acaso e necessidade? Tanto os rabiscos como a sequencia do DNA tem uma dimensão semiótica. Não é à toa que chamamos a sequencia do DNA de CÓDIGO.

Lembre-se do que nós, com toda a certeza, deduziríamos se, ao visitar um planeta distante, encontrássemos uma sucessão de pilhas de perfeitos cubos de titânio com um número primo de cubos em cada pilha dispersos em ordem ascendente: 2, 3, 5, 7, 11, etc. Veríamos de imediato que havia ali um artefato produzido por um agente inteligente, mesmo que não fizéssemos nenhuma idéia do tipo de mediador inteligente de que se poderia tratar. As pilhas de cubos são em si mesmas muito "mais simples" do que a inteligência que as fez, mas esse fato não impede nossa dedução de uma origem inteligente como uma inferência razoável da melhor explicação. De modo instintivo inferimos "para cima", para uma causação inteligente; não "para baixo", para o acaso e necessidade.

Estamos tentando explicar um exemplo particular de complexidade organizada (a vida) e é, portanto, perfeitamente sensato fazer isso em termos de algo que é mais complexo, SE ISSO FOR O QUE AS EVIDÊNCIAS EXIGEM. As evidência, como vimos, são de que:
  1. A vida envolve um complexo banco de dados (DNA) de informação digital.
  2. A única fonte que conhecemos com essa complexidade semelhante a da linguagem é a inteligência.
  3. A ciência teórica da computação indica que o acaso e a necessidade não dirigidos são incapazes de produzir uma complexidade semiótica (semelhante a uma linguagem).

 QUEM CRIOU DEUS?

Há outra objeção à existência de Deus relacionada com a anterior. Muita atenção tem sido dedicada a ela pelo fato de que Richard Dawkins transformou-a no assunto central de sua obra campeã de vendas DEUS, UM DELÍRIO. É a velha pegadinha de um adolescente: Se nós dizemos que Deus criou o Universo, precisamos perguntar quem criou Deus e assim por diante, de modo que, segundo Dawkins, a única forma de escapar de um infinito regresso é negar que Deus exista.(The God Delusion, Richard Dawkins, pg. 136).

Pense apenas na pergunta: Quem criou Deus? O próprio ato de perguntar mostra que o autor da pergunta tem em mente um Deus CRIADO. Portanto, pouca surpresa o fato de alguém intitular seu próprio livro DEUS, UM DELÍRIO. Pois isso é exatamente o que é um Deus criado, um delírio, em virtude de sua definição - como mostrou Xenófanes, séculos antes de Dawkins. Um título mais informativo poderia ter sido: "O DEUS CRIADO, UM DELÍRIO." O livro então poderia reduzir-se a um panfleto - mas as vendas realmente teriam sofrido com isso.

O Deus que criou e sustenta o Universo não foi criado. Ele é eterno. Ele não foi "feito" e, portanto, não está sujeito às leis que a ciência descobriu; foi Ele que criou o Universo com suas leis. Na verdade, esse fato constitui a distinção fundamental entre Deus e o Universo. O Universo passou a existir. Deus não. Os antigos gregos já tinham consciência dessa distinção, e o apóstolo cristão João se refere a isso na frase que inicia seu evangelho: "No princípio era o Verbo...", isto é, o Verbo já existia. "E o Verbo estava com Deus, e o Verbo ERA Deus... Todas as coisas foram feitas - isto é, todas as coisas passaram a existir - por intermédio dele"(João 1.1, 3). Deus pertence à categoria do não criado. O Universo não. O Universo passou a existir; foi criado. Por Ele.

Os gregos ensinavam que:

  • A matéria sempre existiu e sempre existirá. Ela é eterna. Em seu estado básico, ela era informe, desorganizada e ilimitada: o caos. Mas depois surgiu um deus ou algo semelhante e impôs ordem nessa matéria preexistente, que se transformou num Universo bem organizado: o cosmos. Esse processo é o que os gregos entendiam por criação.
  • O criador faz parte de um sistema eterno no qual tudo no Universo emana de Deus, como os raios solares emanam do Sol; e assim, em certo sentido, tudo é Deus. Deus está de algum modo na matéria do Universo, ativamente engajado em mover e desenvolver a matéria para o melhor efeito.
 A antiga tradição hebraica, herdada pelo cristianismo e pelo islamismo, é muito diferente e, podemos observar, estivera presente durante séculos antes da época dos filósofos jônicos. Ela ensinava que:
  •  A matéria não é eterna; o Universo teve um começo, e xiste apenas um Deus eterno e Criador de tudo.
  • Deus existia antes do Universo e não depende dele. O Universo não é uma emanação de Deus. Deus o criou a partir do nada, não a partir de si mesmo, embora o mantenha e sustente objetivando seu fim designado.
Richard Dawkins, portanto, situa-se lá atrás com os gregos, e seu conceito de deuses "descendentes do céu e da terra" e, portanto, criados. De fato, ele bem poderia juntar-se à plateia que ouviu o apóstolo cristão Paulo na escola filosófica do Areópago de Atenas no 1º século. O historiador Lucas registra como Paulo havia notado em suas caminhadas pela cidade como era inadequada a visão de Deus dos cidadãos de Atenas - o lugar estava cheio de ídolos, havendo até um altar no qual estava inscrito "Ao deus desconhecido". Paulo, longe de adotar atitude típica de um fanático anti-intelectual agarrando-se a fantasias, havia estudado com afinco a cosmovisão grega e, apesar disso, não ficou menos surpreso diante da credulidade dos atenienses do que teria ficado Dawkins. Ele mostrou-lhes que um de seus poetas havia percebido que os seres humanos, num certo sentido, "de Deus são geração". Ele apresentou a inferência lógica para que eles a considerassem: "Sendo, pois a geração de Deus, não devemos pensar que a divindade é semelhante ao ouro, à prata ou à pedra, trabalhados pela arte e imaginação do homem"(Atos 17.29). Deuses produzidos pela incansável fertilidade da imaginação humana - deuses criados - não são nenhuma novidade.