Nicolau Copérnico foi responsável por uma revolução no pensamento científico. Desbancando a idéia de que a Terra estava fixa no centro do Universo, Ele iniciou um processo de rebaixamento da importância da Terra, que resultou na difundida visão de que ela é um planeta bastante típico, percorrendo uma órbita ao redor de um sol bastante típico, que está posicionado numa ramificação da espiral de uma galáxia bastante típica, que é um universo bastante típico. Essa redução da importância da Terra é às vezes conhecida como o Princípio de Copérnico.
Todavia... o extraordinário cenário que vai gradativamente emergindo da física e da cosmologia modernas mostra um Universo cujas forças fundamentais estão surpreendente, intrincada e delicadamente equilibradas ou FINAMENTE SINTONIZADAS, a fim de que o Universo possa sustentar a vida. Pesquisas recentes mostram que muitas das constantes básicas da natureza, desde os níveis de energia no átomo de carbono até a taxa de expansão do Universo, têm justamente os valores exatos para que a vida exista. Fosse alguma delas minimamente alterada, o Universo se tornaria hostil à vida e incapaz de sustentá-la. As constantes estão afinadas com precisão, e é essa sintonia fina que muitos cientistas e outras pessoas acham que exige uma explicação.
... Para a vida existir na terra faz-se necessário um abundante suprimento de carbono. O carbono se forma pela combinação de 3 núcleos de hélio ou pela combinação de núcleos de hélio e berílio. ... Fred Hoyle, eminente matemático e astrônomo, descobriu que para que isso aconteça os níveis de energia do estado nuclear básico tinham de estar finamente sintonizados entre si. Esse fenômeno se chama "ressonância". Se sua variação fosse mais do que 1 % a mais ou a menos, o Universo não poderia sustentar a vida. Hoyle confessou mais tarde que nada havia abalado tanto seu ateísmo como essa descoberta. Esse mesmo grau de sintonia fina foi suficiente para persuadi-lo de que parecia que "um superintelecto havia brincado com a física e também com a química e a biologia" e que "não há na natureza forças cegas dignas de discussão" (Annual Reviews os Astronomy and Astrophysics 20, 1982, pg. 16).
... O físico teórico Paul Davies nos diz que, se a razão da força nuclear forte em relação à força eletromagnética fosse diferente à razão de 1 parte em 10 elevada à 16ª potência, nenhuma estrela poderia ter-se formado. Além disso, a razão da constante de força eletromagnética em relação à constante de força gravitacional deve ser do mesmo modo delicadamente equilibrada. Um aumento equivalente a apenas 1 parte em 10 elevada à 40ª potência significaria que só estrelas pequenas poderiam existir; a diminuição na mesma proporção significa que só existiriam estrelas grandes. É preciso que existam estrelas pequenas e grandes no Universo: as grandes produzem elementos em suas fornalhas termonucleares; e somente as pequenas queimas o tempo suficiente para sustentar um planeta com vida.
Usando a ilustração de Davies, esse é o tipo de precisão que um exímio atirador precisaria ter para acertar uma moeda no extremo oposto do Universo observável, a uma distância de 20 bilhões de anos-luz.
... O cosmos ainda nos reserva outras surpresas chocantes. Argumenta-se que uma alteração na força de expansão e contração à razão tão diminuta de 1 parte em 10 elevada à 55ª potência do "tempo de Planck" teria provocado ou uma expansão do Universo demasiado rápida, sem a formação de galáxias, ou demasiado lenta, provocando um rápido colapso.
No entanto, até mesmo esse exemplo de sintonia fina é completamente eclipsado por aquilo que é talvez o exemplo mais espantoso para a mente humana. Nosso Universo é um Universo no qual a entropia (uma medida de desordem) está aumentando... O "objetivo do Criador [projetista]" deve ser preciso à razão de 1 parte em 10 elevada à 123ª potência, isto é, ... um "número que seria impossível escrever por extenso segundo a tradicional forma decimal, porque, mesmo que pudéssemos pôr um zero em cada partícula do Universo, ainda assim não haveria partículas suficientes para realizar a tarefa" (The Emperor's New Mind, pg. 344).
Diante não de um, mas de muitos exemplos espetaculares semelhantes de sintonia fina, talvez não cause surpresa que Paul Davies diga: "Tem-se a impressão de que alguém sintonizou muito bem os números da natureza para criar o Universo... A impressão de um projeto é avassaladora".(The Cosmic Blueprint, pg. 203).
Até aqui estivemos considerando a sintonia fina sobretudo num nivel cosmológico de larga escala. Quando pensamos nas condições específicas que são necessárias mais perto de nossa casa, em nosso sistema solar e na Terra, descobrimos que há inúmeros outros parâmetros que necessitam de extrema precisão para que a vida seja possivel. Alguns deles são óbvios para todos nós. A distância da Terra até o Sol deve ser exatamente correta. Perto demais, a água evaporaria; longe demais, a Terra seria demasiado fria para a vida. Uma mudança de apenas cerca de 2 %, e isso faria toda a vida cessar. A gravidade e a temperatura da superfície também são críticas, não podendo variar mais do que alguns graus para que a Terra tenha uma atmosfera capaz de sustentar a vida - retendo a mistura correta de gases necessários para a vida. O planeta precisa girar na velocidade correta: se fosse lento demais, as diferenças de temperatura entre o dia e a noite seriam demasiado extremas; se fosse rápido demais, as velocidades dos ventos seriam desastrosas. E assim continua a lista. O astrofísico Hugh Ross elenca muitos parâmetros semelhantes que precisam ter sintonia fina para que a vida seja possivel, e faz um cálculo, aproximado, mas conservador, de que a probabilidade de um planeta como a Terra existir no Universo é de aproximadamente de 1 em 10 elevada à 30ª potência.
[Esses] ... não são argumentos do "Deus das Lacunas"; foi o avanço da ciência, não a ignorância dela, que nos revelou essa sintonia fina.. Nesse sentido, não há "lacuna" na ciência. A questão é antes a seguinte: Como deveríamos interpretar a ciência? Para que direção ela aponta?
John Polkinghorne... que é ... um eminente teórico quântico, rejeita a interpretação de muitos universos:
"Vamos reconhecer essas especulações pelo que elas são. Não são físicas, mas sim, no sentido mais estrito, metafísicas. Não há uma razão puramente científica para crer num conjunto de Universos. Por sua construção, esses outros universos não podem ser conhecidos por nós. Uma explicação possível com igual respeitabilidade intelectual - e a meu ver com mais economia e elegância - seria a de que este mundo é como é porque é a criação da vontade de um Criador que pretende que ele assim seja."(One World, pg. 80).
O filósofo Richard Swinburne vai ainda mais longe: "Postular trilhões de trilhões de outros universos, em vez de um só Deus, para explicar a regularidade do nosso Universo, parece o cúmulo da irracionalidade."(Is There a God?, pg. 68).
... Arno Penzias apresenta a argumentação de outro modo: "Algumas pessoas se sentem desconfortáveis com o mundo criado com um propósito. Para apresentar coisas que contradizem o propósito, elas tendem a especular acerca de coisas que não viram". (Genius Talk, Denis Brian).
... Outra versão da teoria do multiverso, a interpretação dos muitos mundos da mecânica quântica, é que todos os multiversos logicamente possíveis existem. Todavia, se todos os universos possíveis existem, então, segundo o filósofo Alvin Plantinga da Universidade Notredame, deve haver um Universo no qual existe Deus, pois sua existência é logicamente possível - embora altamente improvável na visão dos novos ateus. Segue-se então que, sendo Deus onipotente, ele deve existir em todos os Universos e, portanto, existe apenas um universo, este Universo, do qual ele é o Criador e sustentador.
... Arno Penzias nos lembra que... "Os melhores dados que temos - acerca do Big Bang - são exatamente os que eu teria previsto se de nada mais dispusesse do que dos 5 livros de Moisés, os Salmos e a Biblia como um todo". (Em Malcom Browne, New York Times, Clues to the Universe's Origin Expected, 12/03/1978).
... Para Penzias, como para muitos outros cientistas, as majestosas palavras com as quais Gênesis começa não perderam nada de sua relevância ou poder: "No princípio, criou Deus os céus e a terra.". Não é, portanto, surpresa nenhuma o fato de que o BIG BANG tenha sido primeiramente discutido - na Nature em 1931 - por um físico e astrônomo, Georges Lemaitre, que também era um religioso.
... Os argumentos que usamos a partir da cosmologia e da física são baseados em padrões da ciência contemporânea que desfrutam de ampla aceitação. Não são argumentos que envolvem qualquer desafio que seja a alegações tradicionais da ciência e, como sublinhamos acima, não são certamente argumentos do "Deus das lacunas": eles não se reduzem a "A ciência não consegue explicar isso, portanto Deus o fez". É por esses dois motivos que os argumentos da sintonia fina, por exemplo, recebem facilmente a atenção da maioria dos cientistas, concordem estes ou não com as conclusões que deles tiramos. Argumentos desse tipo têm a marca da compatibilidade com a autêntica atividade científica.
Trechos do capítulo 4 de Por Que a Ciência não Consegue Enterrar Deus, do matemático e pesquisador John Lennox. Ed. Mundo Cristão)
No próximo artigo abordaremos sobre a BIOSFERA PROJETADA. Até lá!